domingo, 27 de setembro de 2009

Abstrato

Abstrato
Já não sei o que sou (me perdi).
Ter meu corpo e minha alma,
seu corpo e sua alma,
pra mim não bastou.
Se nada me explica, nada me acalma...
enredo-me em segredos.

Eu tenho medo, eu tenho medo.

Se eu sou pensamento,
eu mesmo me explico,
eu mesmo te invento.
Se também sou um corpo,
pra mim ainda é pouco...
procuro algo mais.

Sou tão pouco concreto,
tão pouco completo.
Complexo,
sou sentimento e sexo,
carne e pecado.

Sou morada do espírito.
Corpo, escravo do tempo.

Se é assim, o que será da minha mente?
Que será da minha alma?
O que será de mim?

Serei livros (matéria),
palavras, idéias, pensamentos, linguagem.
Permanecerei intacto.
Serei palavras (signos)...
idéias, abstrato.

Mais um pensamento filosófico:

Mais um pensamento filosófico: a linguagem é um meio que exprime o esquema conceitual segundo qual construímos qualquer noção da realidade. Uma proposição contém dados que referenciam um enunciado a um objeto, em algo que une um campo semântico a um campo ontológico. Porém, pode haver uma grande lacuna entre aquilo que se pensa e aquilo que realmente há, ou seja, nem sempre podemos adequar perfeitamente os conteúdos concretos de uma proposição ou frase (os significantes: as palavras e o pensamento em si) aos conteúdos abstratos (os significados destas palavras, frases ou proposições: aquilo que elas descrevem), seja por falta de conceitos coerentes, pela ocorrência de propriedades mal identificadas, entre outros. Enfim, posso sentir por você, pensar em você, infinitamente e não ter palavras para dizer...

Verbo escrever

Verbo escrever

Infinitivo.
Em tempo passado,
Em tempo presente,
Em tempo futuro.
Vida ainda não vivida,
Tempo talvez perdido,
Ou ainda em tempo.

(Matos: 2004)

Metalinguagem

Frases feitas são interessantes? Dizem que aqueles que citam as palavras de outras pessoas não sabem o que dizem. Bem, não discordo inteiramente. Porém nada melhor do que citar as palavras de alguém que já disse o que você gostaria de dizer. Não me preocupo em ser julgado como alguém que usa palavras alheias. Afinal, será que todos leram os originais? Se não leram, então está aí uma boa oportunidade para conhecê-los, ainda que superficialmente. Segue abaixo uma série de máximas a respeito da arte e de sua relação com a sensibilidade daquele que a produz. De Platão a Neruda, para que não haja dúvidas.

“Verba volant, scripta manent.” “As palavras voam, a escrita permanece”.

Sentença latina.

"melodiarum motus, animi afectus imitans" “Os movimentos da melodia imitando as paixões da alma.”

(Platão)

“Cur numeri musici et modi, qui voces sunt, moribus símiles sesc exhibent?”

“Por que os ritmos e as melodias , que são apenas tons, se mostram semelhantes aos estados da alma?”

“Musica est exercitium metaphysices occultum, nescientis se philosophari animi.”

“A música é um exercício oculto de metafísica, sem que o espírito saiba que está filosofando.”


(Aristóteles)

"Occidit vero in Oceanum splendidum lumen solis,
Trahens noctem nigram super almam terram."

“No oceano mergulhava do SOL a brilhante luz,
estirando a negra noite sobre a mãe terra.”

(Homero)

"a arte reproduz as idéias eternas, apreendidas mediante pura comtemplação, o essencial e permanente de todos os fenômenos do mundo, e conforme a matéria em que ela reproduz, se constitui em artes plásticas, poesia ou música. Sua única origem é o conhecimento das idéias; seu único objetivo, a comunicação deste conhecimento." (...)

Arthur Schopenhauer. O mundo como vontade e representação. livro III


"enquanto para o homem comum (homem ingênuo)sua faculdade de conhecer é a lanterna que ilumina seu caminho, para o homem de gênio
é o sol que revela o mundo."

Schopenhauer, A. O mundo como vontade e representação, pgf 36.

“ A simples consciência, mas empiricamente determinada, de minha própria existência prova a existência de objetos no espaço fora de mim.”

Imanuell Kant, A crítica da Razão Pura.


“Freude trinken alle Wesen
An den Brüsten der Natur;”

“Todo ser vivente extrai
Alegria do seio da mãe natureza;”

Friedrich Schiller, Ode an die Freude, 4º movimento da 9ª sinfonia de Ludwig Von Beethoven
“ O primeiro desenho rupestre fundava uma tradição porque recolhia uma outra: a da percepção.”

Merleau Ponty, A linguagem Indireta e as Vozes do Silêncio.




“ Na pintura existem duas coisas: os olhos e o cérebro, ambos se devem entreajudar. È preciso trabalhar para o seu desenvolvimento mútuo, mas no pintor: aos olhos pela visão sobre a natureza; ao cérebro pela lógica das sensações organizadas que dá aos meios de expressão. Insisto sempre nisso.”

“Pintar não é copiar servilmente o objetivo, é captar uma harmonia entre numerosas relações... Uma inteligência que organiza poderosamente é a mais preciosa colaboração da sensibilidade para a realização da obra de arte.”

(Paul Cézanne)

Sais-tu pourquoi mes vers sont lus dans les provinces?
Sont recherchés du peuple, et reçus chez les princes?
Ce n'est pas que leurs sons, agréables, nombreux,
Soient toujours à l'oreille également heureux;
Qu'en plus d'un lieu le sens n'y gêne la mesure
Et qu'un mot quelquefois n'y brave la césure:
Mais c'est qu'en eux le vrai, du mensonge vainqueur,
Part-toute se montre aux yeux, et va saisir le coeur;
Que le bien et le mal y sont prisés au juste;
Que jamais un faquin n'y tint un rang auguste;
Et que mon coeur, toujours conduisant mon esprit,
Ne dit rien aux lecteurs, qu'à soi-même il n'ait dit.
Ma pensée au grand jour par-tout s'offre et s'expose
Et mon vers, bien ou mal, dit toujours quelque chose.


Sabes por que meus versos são lidos nas províncias?
São procurados pelo povo e recebidos pelos príncipes?
Não é porque seus sons, agradáveis, numerosos,
Sejam sempre igualmente favoráveis ao ouvido;
Que em mais de um lugar o sentido não estorve a medida
E uma palavra qualquer não afronte a cesura:
Mas é que neles a verdade, triunfando da mentira,
Por toda parte salta aos olhos e vai conquistar o coração;
Que o bem e o mal aí são avaliados com equidade;
Que nunca um patife aí ocupa um lugar augusto;
E que meu coração, guiando sempre o meu espírito,
Nada diz aos leitores que a si mesmo já não tenha dito.
Ofereço e exponho o que penso por toda parte, à luz do dia,
E meus versos, bem ou mal, dizem sempre alguma coisa.]

(Nicolas Boileau)


La Primavera


El pájaro ha venido
a dar La luz:
de cada trino suyo
nasce el agua.

Y entre agua y luz que el aire desarrollan
ya está la primavera inaugurada,
ya sabe la semilla que ha crecido,
se abren por fin los párpados Del pólen.

Todo lo hizo un pájaro sencillo
desde uma rama verde.

(Pablo Neruda)

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Je te veux, ma belle. Aujourd'hui et tous les jours de ma vie. Parce que tu es le plus joli. Comme la fleur, et plus jolie, et plus, et plus. Je ne veux pas passion ou amour pour toute la vie. Je sais que cela est la plus grande folie. Mais je te veux. Tous les jours, je te veux.

domingo, 20 de setembro de 2009

Primeiro Dia


Hoje é meu primeiro dia de blogger e esse é o primeiro post. Assim, já que a idéia de fazer um blog veio do Victor (ventodeestradar.blogspot.com), dedico a ele este post.

O Victor Hugo (este amigo meu) fala muito sobre antropofagia em seu conceito modernista, ou seja, numa espécie de relação de permutas entre artistas, sejam as trocas intelectuais, estéticas, poéticas, entre outros dados ou elementos a serem permutados. De fato é assim que caminha a humanidade artística, na relação de troca. Melhor de tudo é poder sentar com um amigo à mesa de um bar, ou em qualquer lugar, e conversar; conversar abertamente, sobre poesia, música, o sol, a cidade, as pessoas, suas habilidades, seus anseios, medos, angústias... enfim, nos nutrimos e envenenamos uns dos outros; isso é "antropofagia", como figura de linguagem. O termo significa alimentar-se de gente. Então, aproveito para inaugurar meu blog e fechar o post com um termo meu para essa relação de troca intelectual: antropocefalofagia, ou, antropocefalofago : comer ou ser comedor de cabeça de gente...

Não há muito para dizer agora, em breve escreverei coisas interessantes, ou não...