quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Sentir o peso do chumbo, o ardor gelado do metal
E ainda assim, ser levado pelos sussurros aos ouvidos:
Melodiosos, vêm como ondas etéreas,
 Vindo leves pelo ar, vêm de manso.
 Abraçam, te envolvem, tomam pelo braço e levam.
Repentinamente suspendem pelo âmago, te laçam.
Como enquanto ouvisse o acalanto do vento,
Qual o santo enlaçado ao tronco,
Sem mais, arpejaram-te pelo peito.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

9 versos para o mês 9


9 para 9

- Amor, abre a cortina.
Setembro está vindo,
o sol é radiante
e os ipês estão florindo.
A harmonia se afina,
A vida recomeça, tudo se anima.
Aproveitemos – setembro vem.
Chega imponente e deslumbrante.  
Amor abre a cortina, o dia está lindo.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Jonas (Revived)


Jonas (revived)

Um dia, Jonas veio me contar
Sobre aquele velho tempo ido que não vem mais.
De quando ele cantava aquilo que tocava no seu coração.
E nas noites vagava triste, junto ao seu violão.

Mas quis a vida que o destino de Jonas seguisse outro caminho,
Com endereço prescrito.  
No amanhã, o futuro só hoje conhecido
Teria o nome e o telefone rabiscados num simples cartão.

Hoje, Jonas é um homem convicto
De que aquele mesmo destino
Fez dele um cara feliz.
E ele canta tudo isso com seu jeito sorridente,
Com uma alegria ascendente
De quem teve o que quis.

E também beija suas meninas
Com o brilho na retina de uma vida em vida em sol a pino.
Ele celebra os dias com um sorriso de menino
Que os ganhou de presente num pacote colorido,
Com fita, laço e cartão...  

domingo, 14 de agosto de 2011

26 de maio


Ei, velho! Você anda tão calado.
Já há bastante tempo a gente não conversa.
Eu sei, sou controverso e há bastante tempo estou mudado.
Sabe velho, sem você por perto o futebol não tem mais graça...
Sem você por perto o mundo às vezes pára
e o tempo assume estado nostálgico.
Esse aspecto saudosista vem à tona em qualquer coisa que eu faça.
Meu amigo, sente-se aqui ao meu lado.
Quer tomar um chá?
Estou lhe esperando para lavar o velho carro.
Ou irei lavá-lo só, com as lágrimas que eu derrubar?
26 de maio, desde então minhas lembranças vagam,
carregam minha dor a esmo, cavalgando um tordilho, um corcel.
Vou montar minha bicicleta e pedalar até o céu.
Velho, eu sinto falta de contar para algém aquilo que eu sei.
Você se foi e foi o homem da minha vida,
o homem que eu amei.
Ei velho! Estou muito abalado.
Vou acabar aqui nossa conversa
ou vou chorar. E tudo que agora eu disse estará arruinado. 

quarta-feira, 10 de agosto de 2011


[...]- Viva, Sr. Macedo, por onde tem andado que desapareceu?
Era o canário; estava parado junto a uma árvore. Imaginem como fiquei, e o que lhe disse. O meu amigo cuidou que eu estivesse doido; mas que me importavam cuidados de amigos?
Falei ao canário com ternura, pedi-lhe que viesse continuar a conversação, naquele nosso mundo composto de uma tela com barra de endereços, caixa de mensagens e ambiente branco e quadrilátero.
- Que tela? Que barras?
- O mundo, meu querido.
- Que mundo? Tu não perdes os maus costumes de professor. O mundo, concluiu solenemente, é um espaço infinito e azul, com barra de endereços por cima. Indignado, retorqui-lhe que, se eu lhe desse crédito, o mundo era tudo; até já fora uma rede social.
Rede social? trilou ele às bandeiras despregadas. Mas há mesmo redes sociais?[...]
Cesar A. Matos. Paródia de “Idéias do Canário”, de Machado de Assis. 

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Sobre o Amor

Sobre o Amor

Aprenda a diagnosticar o Amor:

O Amor não é algo que se possa tornar claro.
Tampouco é algo objetivo.
Houve supostos amores que não passaram de mera ilusão.
Por isso não nos aprecemos em identificar algo tão abstruso,
Inferindo sem rigor premissas muito frágeis.
Hipóteses facilmente falseáveis não darão conta deste tema
- quase uma quimera -
Que não poderá nunca ser simples – tenho percebido.

O Amor não é algo polido,
Não é sempre cintilante.
Por vezes, é pesado e dolorido.
Embora qualquer amor seja de valor inestimável
E seja extremamente importante,
Nem todo amor é bem agradecido.
Pelo que os sábios têm ensinado,
O Amor está dentre o que há de mais ininteligível.
Têm o descrito tão obscuro quanto o Espírito.
Estejam todos precavidos, sejam prudentes.
Ao lidar com o Amor tenham sempre cuidado.
Não há absoluta certeza sobre suas causas ou efeitos,
Físicos ou psíquicos – os cientistas têm dito.

Há amores que de tão breves são efêmeros.
Há amores banais e até mesmo amores vis.
Esteja atento ao escolher um deles.
Há amores que quase não podem ser esquecidos.
Ainda que seja um amor lamentável
- pelo que muitos têm narrado ter sentido.

Sobretudo e sem tardar, há que se advertir:
Por mais que seu amor seja muito bonito,
Por mais que seja exuberante e até gigantesco
- pelo que os poetas têm descrito –
Não se sabe se realmente há amor infinito.
 
Em dias de chuva também corre o destino.
O trovão é o passado da luz,
A tempestade é o presente do vento
E a sede não espera em vão o futuro das gotas.
Que bençãos precipitam dos céus?
Outrora vi dias afundarem nas poças.
Mas bençãos precipitam dos céus!
Em dias de chuva também corre o destino.
Hoje pula na poça, brincando e sorrindo diante do futuro.
Diante do porvir, Hoje é um alegre menino. 

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Noite Sentimental

Noite Sentimental







Esta noite estou sentimental.

Hoje refleti sobre a vida, decidi o futuro,

Tive boas e más lembranças, me senti mais maduro.

Pensei sobre coisas de família e demais relações afetivas.

Talvez tenha me sentido mais velho.

Pessoas mais velhas julgam que jovens são extremamente sentimentais.

Ao que me parece, o sentimentalismo dos adultos é tanto mais consistente.

E isso denota que os mais velhos são bastante sentimentais.

Algumas pessoas – geralmente mais velhas e sentimentais –

Lêm regurlamente o horóscopo.

Hoje meu horóscopo me dizia coisas sobre bons sentimentos,

Bons acontecimentos e mais.

Tive boas emoções diante de um diagnóstico sentimental.

Esta noite as outras pessoas também estão sentimentais.

Algumas me parecem carentes.

Na maioria delas pude observar certa necessidade de compartilhar coisas passionais.

Todos nós envolvidos em memórias e paixões sedimentares.

Creio que hoje nos encontramos em estado sentimentalista.

E eu acometido de alguma comoção, venho a escrever esse poema.

Enfim, não sei se em função dos corpos celestes,

Se por causa do frio ou da Lua.

Eis uma noite sentimental.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O Dia da Procrastinação

O dia da procrastinação. 
Dia daqueles em que tudo se adia.
Haverá pouco trabalho, a reunião foi adiada,
não haverá aulas talvez. 
Os amigos ficarão em casa.
Pelo telefone procuro a amada 
para contar que hoje tudo ficou para mais tarde.
O espaço parece desordenado.
O tempo letárgico corre lento como um samba desritmado.
Horas depois estarei em casa e vou dormir
que hoje tudo parece desalinhado.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010



Senti soprar um vento forte
tal qual o ar de uma noite de cristal, 
o que sobrou da luz do cosmos, 
luar gelado sobre um espelho de metal. 

A lua está enfeitada com um colar de estrelas.
A noite é minha companheira, é! 
O orvalho mostra a noite enamorada 
e uma calçada se faz cama aos meus pés.

Senti no corpo um peso grande
do ar pesado de uma noite de cristal,
brisa da noite para um ébrio errante
e um blues pulsante sob a lua tropical.

Se a lua está enfeitada com um colar de estrelas,
a noite é minha companheira, é! 
O orvalho mostra a noite enamorada 
e uma calçada se faz cama aos meus pés.

sábado, 27 de novembro de 2010

if your wings seems small (never you are late to learn fly away)

if your wings seems small (never you are late to learn fly away)

don't worry my friend,
if your wings seems small.
after all this way nor always goes down
and sometimes the sky are close to her hands.
if you really want, 
never you are late 
to learn to fly away.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Vários (múltiplos de um mesmo um)


Vários (múltiplos de um mesmo um)


Várias luzes de uma mesma lua.
Várias faces de uma mesma rua.
Várias fases, vários rumos de uma mesma história.
Vários beijos entre a minha boca e a sua.

Vários tempos de uma mesma nota.
Vários tons de uma mesma corda.
Várias notas de uma mesma música.

E de tudo mais que temos em comum, isto é pouco.

Vários pontos de um mesmo fuso.
Várias partes de uma mesma reta.
Várias retas de um mesmo ciclo.
Várias gotas de um mesmo copo.
Vários tombos de um mesmo corpo.
Várias pétalas de uma mesma rosa.

E de tudo mais que temos em comum, isto é pouco.
Posto que podemos ser apenas.

Várias cores de uma mesma tela.
Vários nomes de uma mesma letra.
Várias letras de uma mesma tecla.
Várias frases de uma mesma prosa.
Vários pontos de um mesmo conto.
Vários contos de um mesmo livro.
Vários coros de um mesmo canto.
Vários cantos de uma mesma sala.

E de tudo mais que temos em comum, isto é pouco.
Posto que podemos ser apenas múltiplos.

Várias pedras de um mesmo rio.
Vários rios de um mesmo fluxo.
Vários fluxos de uma mesma água.

E de tudo mais que temos em comum, isto é pouco.
Posto que podemos ser apenas
Múltiplos de um mesmo um.

                                                                                       Cesar Augusto Matos

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Since a long time, 
I'm still waiting. 
You're who can do me rise up or to fall. 
So come on, pretty baby! 
stand by my side
and be all mine for a long life. 

Just understand: I love you , Baby. 
Just understand: I want you , Baby.

Because I don't matter, 
I hope badly or better, 
get you now and later 
as my love maker. 
The time do me rise. 
The time do me fall.
The time is long, 
than it is small. 
Just understand: I love you , Baby. 
Just understand: I want you , Baby.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

MULTIPLICIDADE DOS CANTOS CONCEBIDOS SOBRE IMPRESSÕES À QUÁDRUPLA RAZÃO.

Multiplicidade dos Cantos Concebidos sobre Impressões à Quádrupla Razão
    (Bruno Silveira / Carlos Eduardo (Tucano) / Cesar Augusto (Zarce) / Victor Hugo)
 I

Cantos insoles
solenemente invadem meus ouvidos ébrios,
segundos psicodélicos.

Apenas o som cotidiano de um tempo passado,
vida que corre, que vai e que vira,
de repente desatina num compasso desritmado.
A vida auto-falante, de filtro amarelo, cabelo amarrado.
Ela sentida ao embalo de uma canção,
repentina vida
concebida no poema plural e sativo
que aos poucos vem, vindo a quatro mãos.

II

Peixes de rio
em nossos corpos descansam,
nas ondas de frequência
onde canta a voz etéria.
Corações jovens balançam, na mecânica matéria...

Temos um vislumbre aquoso de um encontro auspicioso.
Um instante, um mergulho aos olhos do espírito.
Um gole d'água, uma idéia em princípio.
Uma viagem em seu início no solstício da ilusão
e em cada parte forma-se a corrente,
conecta vinil e respira inspiração,
de idéia    em    idéia,
pensamento   em   pensamento,
faz-se a torrente. De pingo em pingo,
o clube na agulha faz um respingo.
Aretha fagulha no leito de um rio, 
um blues no coração colore a oração
de meus absurdos tímpanos mudos,
no vago sentido obscuro
de buscar o amor.

III

...Minha vida de fósforo folk
acende o mundo esta noite.
Meu dia é véu,
veneno de manto sem estrelas,
sem constelação ou vulva morena.
Costuro sem agulha meu coração banhado em éter,
lambe gilete e dispensa catéter...

(Remédio "Pra" Você) SINTAX 2000.® Poesia Prafrentechs™

WORD ART (VISUAL POETRY ENTERTAINMENTS)



"What's Happening? Happiness!"






Fra-Z (Unidade Mínima de Linguagem)













"Take These Bronken Wings And Learn To Fly"

sábado, 11 de setembro de 2010

Nelson Rodrigues: um olhar profundo sobre o Rio de Janeiro.

Cesar Augusto Matos



Nelson Rodrigues: um olhar profundo sobre o Rio de Janeiro.

O título deste trabalho representa a intenção de transmitir os comentários sobre a obra de Nelson Rodrigues, mas não originados de uma leitura que pretende ser uma “análise crítica de uma obra literária”, sendo simplesmente uma singela “leitura reflexiva” da obra do escritor. Sem dúvidas a arte de Nelson Rodrigues (1912 – 1980) nos oferece material para a análise minuciosa de cada escrito com profundidade na forma e no conteúdo. Seus elementos estéticos, suas estruturas narrativas e seus recursos lingüísticos nos dispõem o material para a crítica literária, se é melhor colocarmos nestes termos (de crítica literária). Já os sentimentos de passionalidade que nos infundem suas imagens e palavras são oriundos da relação intimista entre o autor e os anseios e alegrias, prazeres, angústias e conflitos morais e sociais de um homem do século XX. Essa relação é realizada no ambiente do espaço urbano carioca, a partir de um sujeito histórico de quem, respeitosamente, podemos dizer um eloqüente boêmio nos proporciona o esperado entretenimento e a divida instrução. Assim as palavras de Nelson nos comunicam seu olhar sobre o assalariado suburbano e sobre o burguês carioca e numa analogia poderíamos dizer que ele, do topo de um “morro da Urca” os vê, a cada um, dentro de seus quartos. Isto é, numa visão sobre a sociedade fluminense considerando-a em seu todo, como grupo ou corpo social, e considerando-a em suas partes, como em cada indivíduo humano. Nas obras de Nelson as experiências humanas das paixões e vontades ou das convenções sociais e dos comportamentos, os conteúdos sobre moral e sobre costumes, sobre religião, ética e política são contados no ambiente das dores e prazeres de um homem. Este texto por sua vez é apenas o dialogo indireto com um artista dotado da sensibilidade de um apaixonado e da sapiência de um erudito, que pode nos parecer um mestre ou um companheiro que nos permite chamá-lo apenas de Nelson.
Suponho ser coerente dizer que as obras de Nelson Rodrigues foram criadas sobre os moldes estéticos que lhe dão a forma inovadora da arte do século XX. Elas ainda ofereceram novo fôlego à literatura brasileira. E creio que apenas as premissas de uma arte poética libertária, encontradas na arte modernista, permitiriam um tipo de tragédia atualizada ou contemporânea como a criada por Nelson.
Com a adoção de ambientes que podem ser reconhecidos fisicamente o autor nos proporciona a representação de espaços familiares. Assim como com a narrativa de um tempo consideravelmente próximo o autor pôde compartilhar suas experiências de modo a inspirar no leitor sensações de verossimilhança com a realidade vivida no cotidiano de cada um, para mais perto ou mais longe, porém sem deixar de relacionar-se com autor e obra podendo identificar-se a si mesmo. Já a linguagem com qual apresenta suas estórias pode ser considerada popular ou coloquial, mas isso não lhe desmereceria, afinal essa linguagem popular permitiu que sua obra fosse amplamente difundida em língua nacional e estrangeira e assim Nelson se popularizaria.
Não ousaria assumir intenções para (um libertino) Nelson Rodrigues ao criar suas obras, fazendo parecer que o autor, deliberadamente, nos oferece argumentos para os fundamentos antropológicos de sua arte, no entanto é cabível oferecer a ele este corolário.
Numa abordagem pelo viés estético dos textos poderemos alcançar seus conteúdos antropológicos. A contextualização das obras dentro da Teoria Estética Moderna, remontando a “Os Bandoleiros” (Die Räuber, 1781) de Schiller, nos mostrará que Nelson Rodrigues pôde aproximar leitor e obra e, utilizando o tempo próximo e lugares comuns, em cenas ambientadas no espaço urbano do Rio de Janeiro, associadas ao cotidiano e a adoção de uma linguagem popular servem para a determinação histórica dos indivíduos representados pelas personagens. Bem como a criação de personagens oriundas de esferas sociais menos prestigiadas na tragédia anterior à tragédia burguesa a partir do século XVIII, que enfrentam conflitos e anseios antes reservados às personagens da elite, permitiu a ele criar um tipo de tragédia atualizada, nos levando ainda à possibilidade de colocar o indivíduo face ao corpo social que ele compõe. Em termos modernos isso significaria empreender a determinação do sujeito e a partir dele, em movimento exterior, lançando-o em transcendência a uma totalidade na esfera do social, universalizá-lo. Isto significa que é necessário perguntar quem é este homem que sente as dores e prazeres, que vive as experiências, encontra os conflitos e participa de uma totalidade compondo grupos e cultura. Se a partir dos textos de Nelson pudermos explorar os costumes, também nos ressaltará o indivíduo.
A possibilidade de remontar de Nelson Rodrigues a Friedrich Schiller se faz presente, a pesar do longo espaço cronológico que os separa, porque há em suas obras vários pontos comuns. Johann Christoph Friedrich Von Schiller (1759 – 1805) foi um poeta, dramaturgo, historiador, filósofo esteta, prussiano que viveu no cerne da formação literária alemã. Ele compunha junto a autores como J. W Von Goethe, Friedrich Maximilian Kingler e Johann Gottfried Von Herder, entre outros, o sturm und drang (tempestade e ímpeto), movimento pré-romântico alemão. O sturm und drang (1760- 1780), antecedeu, na Alemanha do século XVIII, ao período classista do romantismo alemão (1780 – 1805) e foi um movimento literário que reivindicava em campo estético a possibilidade de produzir um tipo de arte emancipadora, livre de vez dos cânones da arte cortesã regida pelas regras racionalistas da poétique classique française (poética clássica francesa) e podendo assim empreender um tipo de literatura engajada socialmente, onde os textos, diferentemente dos textos da tragédie classique (tragédia clássica), deveriam ser escritos em língua nacional, com linguagem popular e pouco rebuscada, para então assumirem seu caráter de arte transformadora da cultura e do corpo social.
Se o “jovem Werther” de Goethe assumia princípios de transformação, sobretudo estética, o “jovem Karl Moor ”de Schiller assumiria um princípio de transformação social a partir de um campo estético. Autores como Kingler e Schiller só poderiam engendrar uma arte crítica no sentido de voltar-se para a sociedade e para os costumes, refletir sobre eles e poder intervir de modo a transformá-los, se assumissem como fundamento de sua arte a possibilidade de, através da expressão artística, universalizar o indivíduo determinado historicamente. Então toda a singularidade das vivências de um indivíduo pode ser socializada por ele através de sua realização concreta, vindo a compor algum tipo de cultura.
Em “Os Bandoleiros” (Die Räuber, 1781), Schiller aborda questões sociais e políticas que dizem respeito a um corpo social, mas também aborda questões éticas e morais inerentes ao indivíduo como tal. O protagonista do drama é Karl Moor, um jovem que em seu comportamento radical demonstra sua insatisfação diante de uma cultura elitista totalitária, opressora e submitiva, erigida sob a égide dos governos monárquicos dos dois primeiros séculos Modernos. Karl está insatisfeito com os planos aristocráticos de seu pai e com a disputa familiar promovida contra ele por seu irmão, Daniel Moor, em face dos bens da família e do amor do pai. Logo Karl foge de casa e compõe um grupo que não se sabe se são revolucionários ou apenas arruaceiros. Junto a personagens de nomes sugestivos como Grimm (no alemão: ira), Spiegelberg (no alemão: montanha de espelhos) e Schufterle (no laemão: patife), Karl sai sem destino, para livrar-se dos domínios do pai, dos domínios de uma sociedade aristocrática e da ameaça eminente do irmão, que inveja a ele, trama contra ele diante do pai e o persegue com a finalidade de assassiná-lo e assim apartá-lo da herança da família.
Os pontos comuns entre Schiller e Rodrigues podem ser notados na intenção dos autores em produzir literatura em linguagem popular, retratando cenas do cotidiano, permeada pela crítica, tal qual a crítica social, e que versa sobre os desejos, paixões, angústias e conflitos subjetivos face às convenções sociais objetivas.
Como conclusão da comparação entre Nelson Rodrigues e Friedrich Schiller, assumirei as intenções de Schiller que são apresentadas explicitamente em suas teses “sobre a educação estética do homem” (Schiller, J. C. Friedrich Von, Cartas Sobre a Educação Estética do Homem, 1795), onde o autor propõe que há a necessidade de determinar historicamente o indivíduo representado pela personagem e a partir disto universalizá-lo posteriormente, de modo que sua singularidade, bem como sua realidade fictícia, possa ser objetivada e encontre relação com uma realidade objetiva, ou seja, para que seja possível associar ficção e realidade podendo, através da arte, intervir na realidade concreta, podendo até transformá-la. Para Schiller, a abordagem de questões morais e sócio-políticas numa tragédia dramática será uma estratégia para oferecer conteúdos que possam ser apropriados pelo leitor, promovendo a aproximação deste último à obra e ao autor, quando poderá o leitor apropriar-se da problemática apresentada nos textos, desenvolver suas reflexões a partir dela e assim chegar a modificar seu comportamento. Logo, a crítica do autor é apresentada ao leitor que assumirá, por sua vez, uma atitude crítica transformadora. Assim a arte promoverá o comportamento crítico e poderá ser capaz de interferir na realidade.

Referências Bibliográficas

Rodrigues, Nelson. Anjo Negro; São Paulo: Nova Fronteira, 2005.

________________. Álbum de Família; São Paulo: Nova Fronteira, 2004.

Almeida, Neville de. Os Sete Gatinhos; roteiro: Neville D'Almeida e Gilberto Loureiro; produção: Cineville Produções, Embrafilme e Terra Filmes; Embrafilme, 1980.

Facina, Adriana. Santos e Canalhas: Uma Análise Antropológica da Obra de Nelson Rodrigues; São Paulo: Civilização Brasileira, 2004.

Schiller, Friedrich. Os Bandoleiros; trad. Marcelo Backes; São Paulo:LP&M, 2001.

Rosenfeld, Anatol. Autores Pré-Românticos Alemães; São Paulo: Herder, 1965.

________________. Teatro Alemão: história e estudos, parte I; : São Paulo: Brasiliense, 1968.

Moraes, Aline J. Distinção Social e Desconforto Burguês em Werther in Revista espaço Acadêmico, ano V, nº 49; http://www.espacoacademico.com.br/049rea.htm : junho/2005.